Brasil Paralelo é a maior anunciante de propaganda política no Google

Produtora do Rio Grande do Sul gastou R$ 368 mil em 647 anúncios desde novembro passado, revela levantamento inédito da gigante de tecnologia

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Bloomberg Línea — O maior anunciante de propaganda política das plataformas do Google é a produtora de vídeos Brasil Paralelo, segundo dados do novo Relatório de Transparência de Assuntos Políticos, lançado pelo Google nesta quinta-feira (23). O estudo faz o mapeamento de todos os anúncios feitos em suas plataformas que mencionam partidos ou candidatos e o volume de dinheiro desembolsado com eles.

A produtora do Rio Grande do Sul gastou R$ 368 mil em 647 anúncios desde novembro do ano passado, data de início do levantamento. Seus vídeos em geral têm caráter revisionista, isto é, fazem ou sugerem uma nova interpretação de fatos históricos.

No seu site, a empresa Brasil Paralelo diz que seu propósito é “resgatar bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros”. E complementa: “Somos uma empresa de entretenimento e educação. Somos orientados pela busca da verdade histórica, ancorada na realidade dos fatos, e sem qualquer tipo de ideologização na produção de conteúdo.”

A empresa diz no site que tem mais de 280 mil assinantes e que seus vídeos tiveram mais de 15 milhões de espectadores únicos em 2021.

O anúncio mais caro, que custou entre R$ 35 mil e R$ 40 mil, é um vídeo com um pedido de assinatura dos serviços da empresa em que o narrador acusa “a mídia” de esconder “a verdade” sobre a causa ambiental na Amazônia e sobre a situação dos indígenas da região. O vídeo foi exibido sete milhões de vezes e foi o segundo anúncio mais caro das plataformas do Google em gastos com impulsionamento.

Não são considerados nos levantamentos apenas a propaganda política ou eleitoral nos termos da legislação brasileira — hoje, a Justiça Eleitoral só trata como propaganda eleitoral o anúncio que faz pedido explícito de votos ou elogios a um candidato. Para ser classificado como propaganda política e entrar no relatório do Google, basta o anúncio mencionar um político ou um candidato.

Em segundo lugar na lista do Google vem o PSDB, que gastou R$ 208 mil em 27 anúncios.

O terceiro maior anunciante é o diretório do PSB no Rio de Janeiro, que deve lançar o deputado Marcelo Freixo como candidato ao governo do estado. O diretório gastou R$ 168 mil em 360 anúncios. O anúncio mais caro, que custou entre R$ 10 mil e R$ 15 mil para impulsionamento, foi um vídeo de propaganda de Freixo exibido 900 mil vezes entre os dias 14 e 22 de abril.

A seguir estão a empresa Newsletter Digital A Voz do Brasil, do candidato a presidente Ciro Gomes (PDT), que gastou R$ 81,5 mil; o partido União Brasil, que gastou R$ 66,5 mil; e o pesquisador Thiago Rodrigues Costa, da consultoria de risco político Atlas Intelligence, que gastou R$ 46,5 mil para impulsionar seus anúncios — normalmente, chamadas para responder a questionários e pesquias de opinião.

O volume total de gastos com propaganda política foi de R$ 1,1 milhão em 1.696 anúncios nas plataformas do Google e do YouTube desde 17 de novembro do ano passado. Desse total, 90% foi gasto em anúncios em vídeo, 7% em anúncios em forma de texto e 2% em imagens.

Embora os critérios sejam diferentes dos critérios legais, a ferramenta oferece uma boa medida do que os candidatos, os apoiadores e os cabos eleitorais falam sobre política na internet.

O Google é a principal ferramenta de buscas do mundo, enquanto o YouTube, que pertence ao gigante de tecnologia, é a segunda — em 2021, 105 milhões de brasileiros acessaram o site pelo menos uma vez por mês, segundo pesquisa da ComScore. E cada vez mais a televisão e as mídias tradicionais perdem importância no marketing político. O presidente Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 com pouco mais de oito segundos de tempo de TV, mas com uma campanha totalmente voltada para as redes sociais.

O documento do Google é interativo e será atualizado diariamente. O anúncio que teve o impulsionamento mais caro foi um vídeo de divulgação do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) que o relaciona à compra de vacinas contra a Covid-19. O PSDB gastou entre R$ 60 mil e R$ 70 mil para disseminar o vídeo, que foi exibido oito milhões de vezes entre os dias 18 e 25 de maio — no dia 23 de maio, Dora anunciou a desistência de sua candidatura a presidente da República.

Nos dados do Google não constam os nomes do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como de seus partidos, o PT e o PL, respectivamente. Segundo o Google, se os nomes não aparecem no relatório é porque não anunciaram nas plataformas da empresa.

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