Cliente pode esperar até 10 meses para receber caminhão

Indústria automobilística ainda enfrenta dificuldades no recebimento de componentes e normalização pode acontecer apenas em 2023

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Bloomberg Línea — Quem tentou comprar um carro nos últimos meses, seja ele popular ou de luxo, percebeu que os prazos de entrega aumentaram. A falta de microprocessadores e outros componentes vindos da China deixou a indústria automobilística em uma verdadeira sinuca de bico, enxergando a demanda crescer de um lado, mas sua capacidade de oferta ser limitada pelas consequências da pandemia.

Agora, empresas que alugam frotas de caminhões e máquinas pesadas enfrentam uma situação semelhante. Os contratos que têm sido renovados para a atualização das frotas estão prevendo prazos mais largos de entrega junto às empresas de locação dos veículos.

“No mercado, a entrega de um caminhão novo hoje pode demorar de oito a 10 meses ao cliente. Em condições normais de mercado esse prazo seria de 60 dias”, disse Gustavo Moscatelli, CFO da Vamos (VAMO3), maior empresa de locação de caminhões e máquinas pesadas do Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

A estratégia adotada pela companhia para enfrentar o cenário foi a antecipação da compra de caminhões no ano passado, mesmo sem haver contratos fechados que demandassem os veículos. Hoje, a empresa tem em estoque R$ 1,3 bilhão em ativos, dos quais R$ 270 milhões já estão negociados com clientes. O restante está disponível para locação imediata de novos contratos que venham a ser fechados.

Segundo o executivo, a demanda por veículos continua mais forte do que a capacidade de entrega das montadoras e ele não enxerga uma volta à normalidade no curto prazo. “O que temos ouvido dos nossos fornecedores é que a situação deve se normalizar apenas no fim deste ano ou início do ano que vem”, disse.

A disponibilidade em atender a demanda de imediato foi um dos motivos que fez a empresa assinar 266 novos contratos de locação no primeiro trimestre do ano, encerrando o período com um total de 1.689 contratos fechados no período. Com isso, a empresa elevou o capex contratado em 58% no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, para R$ 1,6 bilhão, valor que representa um terço do investimento que deve ser realizado neste ano, de R$ 4,5 bilhões. Desse total, R$ 846 milhões em veículos já foram entregues aos clientes de janeiro a março, o que representa um crescimento de 75% ante os primeiros três meses de 2021.

Resultados do 1º trimestre

A Vamos encerrou o primeiro trimestre do ano com um lucro líquido de R$ 121,9 milhões, resultado que representa um crescimento de 66,4% em comparação ao mesmo período do ano passado. A companhia registrou uma receita líquida de R$ 945,2 milhões (+81,6%) e um Ebitda de R$ 361,5 milhões (+77,2%).

No segmento de locação de veículos, a Vamos fechou o período de janeiro a março com receita líquida de R$ 352,5 milhões, 45,6% a mais do que a registrada no mesmo período do ano passado. Já o Ebitda do negócio cresceu 64% no trimestre para R$ 286,8 milhões.

As vendas de caminhões e máquinas pelas concessionárias que também fazem parte da companhia tiveram uma receita líquida de R$ 578,2 milhões, desempenho mais do que duas vezes superior aos R$ 278,4 milhões registrados no mesmo período do ano passado. Já o Ebitda das concessionárias fechou o trimestre em R$ 73 milhões, com crescimento de 150% sobre o primeiro trimestre do ano passado.

“Para as concessionárias, o primeiro trimestre geralmente não é o melhor por uma questão sazonal, mas, neste ano, foi o melhor que já tivemos na história. Isso sinaliza que devemos crescer ainda mais nos próximos trimestres, aumentando não apenas a receita, mas também a rentabilidade”, afirma Moscatelli.

Novo concorrente

O projeto ainda é pequeno, mas a intenção é crescer. A JBS (JBSS3) anunciou hoje (27) seu novo negócio de aluguel de caminhões elétricos, chamado No Carbon.

Por enquanto, a frota nasce com apenas 31 veículos urbanos de carga (VUC), que atenderão apenas a demanda da própria JBS para a distribuição dos produtos das marcas Friboi, Seara e Swift, em um primeiro momento.

Em um comunicado enviado à imprensa, a JBS informou que “a expectativa é expandir essa frota no médio prazo, com a possibilidade de abrir a locação de veículos de carga elétricos para outros players do mercado com alta demanda por serviços logísticos, como redes varejistas e empresas de e-commerce”. Questionada sobre qual seria o tamanho potencial da frota e em quanto tempo ele poderia ser alcançado, a empresa não havia respondido até o fechamento desta reportagem.

A No Carbon ficará dentro da JBS Novos Negócios, que reúne os negócios da empresa que possuem uma correção com o core business do grupo. Um desses negócios é a TRP Seminovos, responsável por negociar a compra dos caminhões utilizados na operação da JBS e, posteriormente, revendê-los ao mercado.

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