Brasil

Bolsonaro diz que negocia com Lira uma CPI sobre alta dos combustíveis

No setor privado, um dos líderes da categoria dos caminhoneiros ameaça paralisação como em 2018

Preços da gasolina e do óleo diesel voltam a subir nas refinarias e nos postos neste sábado (18)
17 de Junho, 2022 | 07:52 PM

Bloomberg Línea — O novo reajuste nos preços da gasolina e do diesel, anunciado nesta sexta-feira (17) pela Petrobras (PETR4;PETR3), gerou reações de repúdio em diferentes segmentos da sociedade, em nova amostra das tensões sociais no Brasil e no mundo da maior inflação em duas a quatro décadas.

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Pela manhã, antes mesmo do anúncio da estatal, o presidente Jair Bolsonaro disse em seu Twitter que, como acionista, o governo federal é “contra qualquer reajuste nos combustíveis” e afirmou que a Petrobras pode “afundar o Brasil num caos”, citando a greve dos caminhoneiros de 2018.

A categoria, por sua vez, respondeu por meio de nota, dizendo que a “grande falha e incompetência” do governo foi não ter reestruturado a estatal e suas operações no início do mandato de Bolsonaro.

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Wallace Landim, também conhecido como Chorão, presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e um dos líderes da paralisação dos caminhoneiros em 2018, assina a nota publicada pela categoria e escreve que, “de uma forma ou de outra, mantendo-se essa política cruel de preços da Petrobras, o país vai parar novamente, se não for por greve, será pelo fato de se pagar para trabalhar”. Ee afirmou, na sequência, que “a greve é o mais provável”.

A Bloomberg Línea tentou contato com Chorão por telefone, mas não obteve resposta.

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Com o novo reajuste, o preço médio de venda de gasolina da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro, enquanto o valor do diesel passará de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. Para o consumidor final, poderá levar o preço médio do litro da gasolina para R$ 8,00.

Investigação

Na quinta-feira (16), feriado de Corpus Christi no Brasil, o presidente do conselho de administração da Petrobras, Marcio Weber, convocou o colegiado para uma reunião extraordinária para discutir preços. Com a notícia, o presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), disse em seu Twitter ainda na noite de ontem que convocaria uma reunião para a próxima segunda-feira (20) para discutir a política de preços da Petrobras “que pertence ao Brasil, e não à diretoria da Petrobras”, escreveu.

Já nesta sexta-feira, depois do anúncio de reajuste da estatal, Lira escreveu em seu Twitter que o presidente da Petrobras deveria renunciar “imediatamente” e chamou a gestão de Jose Mauro Coelho de “terrorismo corporativo”.

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Coelho foi demitido por Bolsonaro no fim de maio, cerca de um mês após assumir a presidência da estatal. O governo indicou então Caio Paes de Andrade para o cargo, mas a troca ainda não aconteceu porque está seguindo a tramitação necessária de acordo com os estatutos da companhia.

Em viagem ao Rio Grande do Norte nesta sexta, o presidente Bolsonaro defendeu, em entrevista a uma rádio local de Natal, a instalação uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o presidente da estatal, seus diretores e o conselho administrativo e fiscal da Petrobras.

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“Conversei agora há pouco, há poucos minutos, com Arthur Lira, que está neste momento reunindo com líderes partidários. A ideia nossa é propor uma CPI para investigarmos o presidente da Petrobras, os seus diretores e também o conselho administrativo e fiscal, porque nós queremos saber se tem algo errado nessa conduta deles e porque é inconcebível se conceder um reajuste no Brasil com o [preço do] combustível lá em cima e com os lucros exorbitantes que a Petrobras está dando”, disse.

Ele acrescentou dizendo que o novo reajuste é uma “traição” ao povo brasileiro.

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Contexto

O novo reajuste no preço da gasolina acontece 99 dias depois da última alta, em março, enquanto o diesel foi reajustado há 39 dias. Desde o início do ano passado, o presidente Bolsonaro já trocou três vezes o comando da estatal justificando seu descontentamento com a forma como os preços de combustíveis têm sido constantemente reajustados, uma decisão que pressiona a inflação e é impopular.

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/seção FUP), com base em levantamentos da Petrobras, mostram que, entre janeiro de 2019 e 17 de junho de 2022, o diesel nas refinarias subiu 203%, enquanto a gasolina subiu 169,1%, e o GLP, 119,1%.

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Em nota, Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirmou que Bolsonaro “debocha dos brasileiros com seu discurso eleitoreiro” quando critica o reajuste dos combustíveis, mas mantém a política de preço de paridade de importação (PPI), que se baseia na cotação internacional do petróleo, na variação cambial e nos custos de importação.

A política de paridade foi adotada em 2016 ainda no governo de Michel Temer, momento em que Pedro Parente era presidente da estatal. Nos anos do governo de Dilma Rousseff (PT), a estatal amargou dezenas de bilhões de reais de prejuízo bancando um subsídio para que os combustíveis fossem vendidos a preços que se distanciaram das cotações internacionais do petróleo, que servem de referência para os negócios da estatal. Depois de Temer, Bolsonaro manteve a mesma política.

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“Agora, a quatro meses das eleições, Bolsonaro se diz contrário às altas dos derivados, as quais deveria ter combatido desde o início de seu governo”, diz a nota da entidade sindical.

A Petrobras, por sua vez, disse que “é sensível ao momento em que o Brasil e o mundo estão enfrentando e compreende os reflexos que os preços dos combustíveis têm na vida dos cidadãos. E afirmou que “tem buscado o equilíbrio dos seus preços com o mercado global, mas sem o repasse imediato para os preços internos da volatilidade das cotações internacionais e da taxa de câmbio.”

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Os reajustes afetaram o Ibovespa, que fechou abaixo dos 100 mil pontos, com queda de 2,90%. Entre as maiores baixas do dia estavam justamente os papéis da Petrobras, que caíram mais de 10% ao longo da sessão, mas amenizaram perdas e fecharam em baixa de 7,25% (ON) e 6,09% (PN).

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Melina Flynn

Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.

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