Demissões em startups na América Latina são chance para contratar talentos

Profissionais como desenvolvedores continuam muito escassos na região e simbolizam outra perspectiva do “inverno tech” entre empresas novatas

Empresas estrangeiras que contratam engenheiros de sistemas sênior pagam mais de US$ 100 mil ao ano
12 de junio, 2022 | 03:22 PM

Bloomberg Línea — A onda de demissões das startups que está assolando a América Latina é um momento doloroso para centenas de funcionários na região, mas, em meio à crise e um déficit de talentos digitais, muitas empresas também estão aproveitando a situação para buscar e contratar esses trabalhadores altamente qualificados.

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O empreendedor colombiano da área de tecnologia Freddy Vega, fundador da Platzi, destacou a importância da adaptação das empresas às mudanças, já que não são necessariamente as mais fortes que sobreviverão, mas sim as que se movimentam mais rapidamente e estão dispostas a fazer as mudanças necessárias.

Ele também mencionou a importância de as empresas prepararem suas finanças para pelo menos dois anos de crise, o que posicionará melhor aquelas que conseguirem encerrar suas rodadas de investimento e garantir seu “pé de meia”, referindo-se à “vida útil” de uma partida antes que seu fluxo de caixa se esgote.

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No que diz respeito aos trabalhadores demitidos, Vega afirma que, no setor de tecnologia, será mais fácil para eles serem contratados novamente, dado o déficit de profissionais da área em regiões como a América Latina.

“Você sempre terá um emprego se permanecer na indústria de tecnologia (...) O setor é único, e é por isso que vale tanto a pena trabalhar em tecnologia. Provavelmente não haverá tantos salários bons e tanta estabilidade como nos últimos cinco anos, mas este lugar será sempre bom, não existe outro setor com este poder”, disse ele em um vídeo publicado em suas redes sociais.

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Em caso de demissão, ele recomenda que trabalhadores aumentem seu valor estudando e tentando retornar ao mercado o mais rápido possível, à medida que outras iniciativas surgem para ajudar a resolver os efeitos negativos da crise que começam a ser sentidos nas startups da Colômbia.

Em uma tentativa de ajudar, Daniel Bilbao, co-fundador da Truora, lançou a Pivot, uma plataforma que permite que funcionários demitidos na América Latina se conectem com a oferta de empresas interessadas em contratá-los.

As pessoas demitidas de startups podem se cadastrar na plataforma para obter exposição ou relatar uma demissão, ao passo que as empresas podem buscar talentos em vários países da América Latina.

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Os perfis incluem profissionais de atendimento ao cliente, design, vendas, engenharia, análise de dados, desenvolvimento de negócios, operações, compras e finanças, entre outros.

Uma tendência em ascensão e que está permitindo às empresas enfrentar a falta de talentos em TI são os perfis híbridos – profissionais que se dividem em duas áreas de conhecimento, como cibersegurança e dados ou produto e design.

Daniel Camacho, diretor de tecnologia do PageGroup Colômbia

Também há alternativas, como a plataforma de emprego Torre, fundada pelo empresário colombiano Alexander Torrenegra, que mantém centenas de vagas de trabalho remoto ativas em meio à crise.

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De acordo com a plataforma de vagas Deel, engenheiros de sistemas e gerentes de projeto estão entre os cargos mais procurados por empresas estrangeiras para vagas remotas de cargos seniores em países como a Colômbia.

A Deel, que analisou mais de 100 mil contratos internacionais, indicou que os gerentes de projetos seniores podem ganhar até US$ 112,6 mil por ano, ou pouco mais de US$ 9,3 mil por mês.

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Enquanto isso, empresas estrangeiras que contratam engenheiros de sistemas seniores estão pagando até US$104,7 mil por ano, ou US$8.725 por mês.

Natalia Jiménez, chefe de expansão da Deel para a América do Sul, destacou que nos primeiros cinco meses do ano, as contratações internacionais na plataforma cresceram cerca de 165%, e a indústria de tecnologia é a que mais contratou – um dos perfis mais procurados é o de desenvolvedor.

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Por outro lado, “os países que mais contratam talentos colombianos através de nossa plataforma são os Estados Unidos, o Reino Unido e Singapura”. O importante é que hoje a oferta de mão-de-obra não tem mais fronteiras, e este tipo de cargo oferece oportunidades em todo o mundo, sem a necessidade de um passaporte”, disse ela.

Talentos em TI

De acordo com um relatório de 2021 da empresa britânica de recrutamento PageGroup, “embora haja cada vez mais esforços e iniciativas na América Latina que afetam o percentual de perfis com habilidades 4.0, nem todos os países apresentam crescimento ano a ano”.

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A escassez na oferta de perfis digitais na América Latina atingiu 48% em 2021, já que cargos relacionados ao desenvolvimento de software como JavaScript Angular (+78%), JavaScript Ember (+67%), Objective-C iOS (+63%), JavaScript Vue (+49%) e Java Android (+44%) estão em alta.

Daniel Camacho, diretor da divisão de tecnologia do PageGroup Colômbia, explica que a América Latina há muito é uma importante fonte de talentos em tecnologia para a América do Norte, inicialmente com foco em fabricação e serviços comerciais.

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Ele contou à Bloomberg Línea que, nos últimos cinco anos, a força de trabalho da área de TI da região cresceu quase duas vezes mais rápido que a dos EUA.

“Embora os custos tenham aumentado com este rápido crescimento, os salários médios na América Latina ainda são cerca de um terço dos salários nos EUA. Os três maiores mercados de talentos de TI são São Paulo, Cidade do México e Santiago, mas o que cresce mais rapidamente é o de Bogotá”, disse ele.

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Cidade do México, Rio de Janeiro, Bogotá, Santiago e São Paulo representam os principais mercados com mais profissionais de TI, variando de 21% a 9% do total da região, de acordo com o PageGroup.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.

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