Rodadas early-stage da semana: Cicada, Pandas, Nuqlea e mais

A Bloomberg Línea conversou com as startups que conseguiram captar seus primeiros cheques na América Latina nesta semana em um cenário econômico desafiador

Manuel Ballesteros, Javier Hernández e Ignacio Tovar, cofundadores e sócios da fintech Cicada (Foto: Divulgação)
27 de mayo, 2022 | 08:39 AM

Bloomberg Línea — Ainda não é junho, mas para os empreendedores da América do Sul, parece que o inverno já começou. Enquanto grandes gestoras de capital de risco como a Sequoia, a QED e até mesmo a aceleradora Y Combinator estão alertando os empreendedores para se prepararem para um cenário econômico mais desafiador e com menor liquidez, há aqueles que estão conseguindo receber seus primeiros cheques early-stage na região.

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É o caso da fintech mexicana Cicada, da startup colombiana Pandas, que captou a maior pré-Seed da América Latina, e da argentina Nuqlea. A Bloomberg Línea conversou com os empreendedores dessas startups.

Cicada

A plataforma de infraestrutura financeira mexicana Cicada captou US$ 3,6 milhões em uma rodada Seed liderada pela Kaszek, com participação da Geometry Ventures, BCP Securities e anjos do setor financeiro mexicano. A fintech disse que já está em negociações para uma extensão da rodada Seed.

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Em janeiro, a empresa obteve uma licença para operar como uma corretora com dinheiro levantado com anjos. Agora, a empresa sairá do modo beta para lançar seu primeiro produto para clientes institucionais no México.

Segundo Ignacio Tovar, co-CEO e cofundador da startup, em mercados de capitais de países emergentes o trading não é feito com tecnologia. A ideia da Cicada é oferecer uma plataforma para digitalizar os mercados de capitais institucionais e trazer liquidez.

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A startup também planeja expandir para o mercado de swaps - depois de conseguir licença apropriada para isso - e alavancar tecnologia Blockchain para processos de pré-negociação e pós-negociação.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Tovar disse que o projeto da startup começou dois anos atrás, quando seu sócio Javier Hernández estava trabalhando na Morgan Stanley em Nova York. “Ele percebeu que para fazer transações de instrumentos em mercados secundários em mercados emergentes era muito complicado”, disse Tovar, que tem um histórico multidisciplinar.

Ele estudou robótica, design e se aventurou no empreendedorismo quando voltou para o México depois de passar um tempo estudando em Londres.

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“No México existem cerca de 300 instituições que movem grandes volumes de dívida. Estamos com uma estratégia para atraí-los para a plataforma”, disse.

Tovar explica que nos mercados de dívida mexicanos existem os investidores institucionais e os traders, que compõem o lado de compra e o de venda. “O lado de compra são instituições que usam esses instrumentos como parte de sua estrutura de poupança. Por exemplo, você tem grandes fundos de pensão, tesouros. Muito desse dinheiro está concentrado nestas instituições de compra. Mas para operar, essas instituições precisam dos compradores, e, no México, precisam de um intermediário. Muitas vezes há vários intermediários em uma única transação. Agora estamos promovendo isso sem intermediário por uma via digital”, disse o co-CEO.

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A Cicada pretende, em um segundo momento, expandir para o Peru, Chile e Argentina, países em que há estrutura similar de títulos, de acordo com Tovar. “Queremos ser a parte chave da estrutura financeira para renda fixa”, disse.

Pandas

De Bogotá, a startup Pandas captou a maior pré-Seed da América Latina até hoje: US$ 6,3 milhões, em um aporte liderado pela Third Kind Venture Capital, com participação da Acequia Capital, Picus Capital, Tekton Ventures, Partech, K50 Ventures, Liquid2 Ventures, Clocktower Technology Ventures, Gaingels e outros investidores, como fundadores de startups como a Treinta, Belvo, Nowports, Merama, Tul, Riogrande, Truora, Ironhack, Clara e Farmu.

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Os empreendedores Marcos Esterli e Rio Xin. Foto: Divulgaçãodfd

O Pandas é uma plataforma que conecta pequenos vendedores na América Latina com fábricas da China. O dinheiro da captação será aplicado na escala das operações, desenvolvimento da plataforma e atração de talento.

O fundador da startup, Rio Xin, cresceu entre a China e a Espanha e tem um histórico em engenharia espacial, com um doutorado por Cambridge. Xin trabalhou na consultoria McKinsey por quase cinco anos, focando em estratégia para private equity e transformações digitais, onde conheceu seu sócio no Pandas, Marcos Esterli.

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Esterli estudou no Reino Unido e na Espanha e atuou em uma startup focada em avaliações ESG. Depois, na América Latina, ele se juntou à equipe da Treinta como investidor.

“Como parte do trabalho dele na Treinta, ele conversava com muitos pequenos negócios na América Latina e percebeu que um dos grandes problemas para esses vendedores era a parte de compras”, disse Xin, em entrevista à Bloomberg Línea. “Muitos produtos demoram no mínimo 30 dias para chegar da China para a América Latina, então decidimos criar algo para ajudar os pequenos negócios. Agora isso é mais relevante do que nunca, por conta da situação que vivemos nos últimos dois anos”, disse.

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O Pandas também pretende agregar serviços financeiros à plataforma de compras. Hoje, o serviço funciona assim: os pequenos negócios acessam o site do Pandas e compram seus produtos da Ásia. O Pandas promete entregar esses produtos na América Latina em até um dia.

Segundo Xin, isso é possível porque a startup alavancou o uso de dados para identificar produtos de alta rotatividade e prever os produtos que os vendedores vão precisar.

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Enquanto investidores renomados como Marcelo Claure, ex-COO do SoftBank, apontam para a América Latina - e em especial o México - com o potencial de se tornar o produtor de manufatura para os países do ocidente, que migrariam para uma regionalização por conta dos problemas na cadeia de suprimento centralizada na China, Xin afirma que há produtos que simplesmente não estão disponíveis para serem produzidos na América Latina.

Segundo Xin, o Pandas tem parceiros pela China para redirecionar o escoamento da mercadoria para a América Latina caso alguma área esteja bloqueada por lockdowns.

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“A China ainda é o produtor do mundo em termos de alguns produtos que você precisa expertise para fazer. Acredito que esta situação da cadeia de suprimentos mostra o quanto a América Latina precisa de uma empresa como a Pandas, com um escritório na China, para entender os problemas e trabalhar perto deles”, disse o executivo.

Nuqlea

A plataforma digital para construção e habitação na Argentina Nuqlea captou US$ 3 milhões. Entre os investidores, destaca-se a Newtopia VC, com participação majoritária, e outros fundos de VC como Nova (da Saint Gobain), Grupo Murchison e Catalizadores.

O grupo de investidores também inclui uma mistura de figuras do esporte — Manu Ginobili e Eduardo Novillo Astrada —, do mundo empresarial —Darío Maffei (Indigo Global Chief Business Officer) e Matías Woloski (cofundador da Auth0, um dos unicórnios argentinos)— , além de outros empreendedores e anjos.

A startup é uma espécie de marketplace por meio do qual usuários finais e perfis especializados têm acesso a mais de 20.000 produtos de 44 marcas no setor de construção.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups

Yanin Alfaro (BR)

Jornalista com experiência em startups e tecnologia

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