Selic a 12,75%: Como ter retorno em um ambiente global de maior cautela

Patamar da taxa de juros brasileira é o maior desde de 2017 e marca rápido ciclo de aperto monetário para conter a pressão inflacionária

Com juros ainda mais elevados e em um cenário de grande volatilidade, especialistas seguem recomendando cautela e produtos mais conservadores
04 de mayo, 2022 | 06:36 PM

Bloomberg Línea — Como esperado por grande parte do mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, elevou hoje a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano.

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O patamar é o maior para a taxa desde janeiro de 2017, quando estava em 13% ano a ano, e marca um rápido ciclo de aperto monetário no país na tentativa de conter a forte – e persistente – pressão inflacionária.

Com juros ainda mais elevados e em um cenário de grande volatilidade, marcado pela continuidade da guerra na Ucrânia, restrições na China para conter o avanço da covid-19, bem como eleições presidenciais no fim do ano no Brasil, especialistas seguem recomendando cautela e produtos mais conservadores.

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Isso não significa abrir mão de bons retornos, dado que hoje o investidor consegue encontrar taxas atrativas em produtos com risco soberano, como é o caso dos títulos públicos do Tesouro Direto.

Na avaliação de Amanda Nicoli Pinheiro Bachesque, assessora e sócia do escritório Alta Vista Investimentos, os mais interessantes hoje são os títulos Tesouro IPCA+ de médio prazo, como o de vencimento em 2026, em que o investidor garante uma taxa real (acima da inflação) em torno de 5% ao ano.

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O investidor que quiser ativos de maior risco e maior retorno, pode buscar prazos mais longos, acima de dez anos, em que é possível ganhar com o carrego do papel, bem como com a venda antecipada, defende Bruna Centeno, economista e especialista em renda fixa do escritório Blue3.

É importante lembrar que o investidor receberá o valor contratado na compra apenas se mantiver o papel até a data de vencimento. Caso queira se desfazer antes, poderá ter ágio – se as taxas de mercado caírem – ou deságio, se as taxas subirem.

Para Guilherme Cadonhotto, especialista em investimentos em renda fixa da casa de análise Spiti, a grande oportunidade hoje recai sobre os títulos prefixados.

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O analista defende que o mercado não estima uma inflação ao redor de 10% para os próximos três a quatro anos, e que os grandes vilões do IPCA - como o petróleo, o período mais seco que elevou a conta de luz e os estímulos fiscais, por exemplo - não devem persistir nos próximos anos, aliviando a pressão inflacionária.

Segundo Cadonhoto, esses papéis são interessantes para ganhar com a marcação a mercado no médio prazo.

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Emissão bancária e crédito privado

Populares pela proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira, os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) podem ser uma opção interessante para composição de portfólio, segundo Bachesque, da Alta Vista Investimentos.

Isso porque hoje em dia, em plataformas de investimentos, é possível encontrar, por exemplo, CDBs de bancos médios com prazo de dois anos e taxas prefixadas da ordem de 14% ano a ano, bem como indexados à inflação, que pagam o IPCA mais cerca de 6% ao ano.

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Já no crédito privado, debêntures de infraestrutura podem contribuir para a diversificação, segundo a especialista, dadas as taxas atrativas e isenção de Imposto de Renda.

Bachesque destaca, contudo, a menor liquidez, com prazos entre dez e 15 anos, e o fato de que o investidor deve ficar atento à classificação de risco do emissor, buscando aqueles “AAA” ou “AA+”, dado que o risco é a própria empresa e pode haver calote.

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Tem oportunidade na Bolsa?

De acordo com Centeno, da Blue3, há pechinchas hoje a serem aproveitadas na Bolsa brasileira. “A Bolsa está descontada, então dá para aproveitar a ‘liquidação’ para comprar boas empresas a preços bons, visando uma recuperação lá na frente”, avalia.

Entre os setores da Bolsa que oferecem boas oportunidades no momento, segundo ela, estão os de siderurgia e mineração, positivamente impactados pela valorização das commodities, assim como grandes bancos, que se beneficiam de um cenário de juros mais altos. O foco, contudo, deve ser para retorno no longo prazo, destaca.

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Bachesque, do Alta Vista Investimentos, chama atenção para o cenário mais desafiador e afirma que uma opção para o pequeno investidor é aplicar em fundos de investimento, que contam com a expertise de um gestor.

Ela diz gostar de fundos que não sejam direcionais em setores específicos, de forma a permitir que o gestor tenha mais flexibilidade para adequar a estratégia aos diferentes cenários.

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Diversificação da carteira

Independentemente do cenário, uma grande diversificação do portfólio entre classes de ativos, setores da economia, moedas e instituições financeiras contribui para minimizar possíveis perdas.

Segundo Centeno, da Blue3, investimentos atrelados ao dólar, como fundos de investimento internacionais, seguem sendo uma boa opção. Além disso, o investidor com perfil mais arrojado pode até expor parte do patrimônio a fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês) de criptomoedas, como o HASH11, visando um lucro maior no longo prazo, destaca.

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Bachesque, por sua vez, destaca o investimento em fundos imobiliários, em especial os de papéis, que têm ativos de renda fixa na carteira, como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).

“Esses fundos podem estar atrelados ao IPCA, IGP-M ou CDI e vêm pagando dividendos interessantes, muitas vezes acima de 1% líquido no mês”, diz. O horizonte mínimo de investimento, contudo, deve ser de três anos, reforça, dado o cenário de grande incerteza.

Poupança vale a pena?

Ainda que os juros estejam em patamares elevados, a caderneta de poupança segue perdendo para outras aplicações conservadoras e, mais importante, para a inflação. No ano, o IPCA acumula alta de 3,20% até março e em 12 meses, de 11,30%. Já o retorno da caderneta está em 2,23% em 2022 e em 4,75% em 12 meses.

Simulações feitas por Bachesque, da Alta Vista Investimentos, mostram que o retorno pago pela “queridinha dos brasileiros” corresponde a cerca de metade do pago por papéis de emissão bancária, como CDBs, Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI e LCA), já descontado o Imposto de Renda cobrado pelos CDBs.

Confira quanto renderiam R$ 10 mil na poupança e em aplicações que paguem 100% do CDI, 110% do CDI e 90% do CDI, já descontado o Imposto de Renda. Foram considerados dois cenários: com Selic a 12,75% ao ano e a 13,25%, que é a estimativa do relatório Focus, do BC, para a taxa básica ao fim do ano. É importante destacar que não foi considerada a variação da inflação no período.

“Em momentos em que a inflação dispara, como nos últimos dois anos, ter ativos atrelados ao CDI podem deixar o ganho real atrasado, mas ainda assim são excelentes opções de reserva de emergência para o investidor”, diz a especialista da Alta Vista Investimentos.

Cadonhotto, da Spiti, defende as vantagens de se ter uma carteira de renda fixa com alta liquidez, permitindo que o investidor faça movimentações ao longo do tempo, a depender das oportunidades de mercado.

“Se analisarmos os maiores gestores de renda fixa do Brasil, vamos perceber que eles mantêm um percentual alto de liquidez na carteira de forma a terem retorno relevante no médio prazo e ainda, estarem preparados para oportunidades que surgirem no meio do caminho”, diz.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.

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