Centro de engenharia, raio-x das eleições, IA: os planos do Google no Brasil

Gigante de tecnologia detalhou prioridades no país dentro do investimento de US$ 1,2 bilhão previsto na América Latina em cinco anos

O presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, durante o evento Google for Brasil
14 de junio, 2022 | 07:50 PM

Bloomberg Línea — O Google (GOOGL) apresentou nesta terça-feira (14) mais informações de seus principais projetos no Brasil dentro do plano de investimento de US$ 1,2 bilhão previsto pela empresa na América Latina nos próximos cinco anos. As iniciativas foram anunciadas durante o Google for Brasil, evento em São Paulo.

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Um dos principais anúncios é o da inauguração de um centro de engenharia em São Paulo, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), instituto ligado ao governo paulista que acerta parcerias com empresas privadas para fomento à inovação. Será o segundo centro de engenharia do Google na América Latina. O outro fica em Belo Horizonte. Não foram divulgados valores.

O presidente do Google no Brasil e vice-presidente global, Fábio Coelho, disse que o centro vai se dedicar ao desenvolvimento de tecnologias e soluções de privacidade e segurança digital.

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O centro ficará no principal prédio do IPT, que fica dentro da Cidade Universitária, da USP (Universidade de São Paulo). O prédio, chamado de Campus 1, tem 7 mil metros quadrados e, depois da reforma, terá capacidade para até 400 pessoas. O plano é que a obra seja entregue até o final de 2024. O plano do Google é manter apenas a estrutura externa do edifício e reformar por dentro.

A previsão é que sejam contratados 200 engenheiros no Brasil até 2023. Enquanto a nova unidade não ficar pronta, os novos contratados trabalharão em uma das sedes da empresa em São Paulo.

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Novo centro de engenharia do Google em São Paulo: empresa ocupará prédio de 7 mil metros que fica dentro do campus da USP e tem capacidade para 400 pessoas

Os projetos em ampla medida buscam imprimir uma participação mais ativa da companhia em ações sociais para reduzir a desigualdade de oportunidades na população brasileira, ampliando e priorizando dentro da empresa o acesso de minorias a políticas de qualificação, por exemplo.

Eles também incluem ações ligadas à inovação, como a chegada ao país do Duplex, a tecnologia de Inteligência Artificial do Google que já começou a ser usada em testes para a checagem de informações como horários de funcionamento, com a ligação de “robôs” a lojas e restaurantes.

Outro destaque foi o anúncio do lançamento do acervo digitalizado e gratuito dos mais de 60 anos de carreira de um dos maiores artistas do país, Gilberto Gil, 80 anos, dentro da iniciativa Google Arts & Culture: são mais de 41 mil imagens e cerca de 900 vídeos e gravações históricas, incluindo um álbum inédito.

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O Google também divulgou que gastou R$ 1,6 bilhão em infraestrutura de tecnologia no Brasil desde 2017. Para 2023, a companhia disse que vai inaugurar um novo cabo submarino, que vai ligar a América do Norte à América do Sul pelo Oceano Atlântico. O cabo vai se chamar Firmina, em homenagem à abolicionista maranhense Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra do Brasil.

Fábio Coelho comemorou os dados divulgados do Google for Startups, projeto de financiamento e consultoria para novas empresas, no Brasil. Foram 300 empresas atendidas em seis anos, gerando cerca de 25 mil empregos, segundo o executivo. Foi criado dentro do programa uma iniciativa para treinar e formar 200 engenheiros negros de baixa renda nos próximos 12 meses.

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Durante a Cúpula das Américas, na semana passada em Los Angeles (EUA), o Google anunciou que ofereceria um milhão de bolsas de estudo nas áreas de tecnologia e suporte a TI até 2026. Nesta quarta, a empresa comunicou que metade dessas bolsas será oferecida no Brasil, e 30 mil delas começaram a ser distribuídas hoje, para jovens por meio do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE).

Eleições

O Google detalhou novidades que deve lançar nos próximos meses em atendimento ao acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para combater a divulgação de desinformação nas eleições.

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O principal anúncio foi o do novo “relatório de transparência da publicidade política”, que vai divulgar informações sobre anúncios e anunciantes de propaganda política no Brasil. O documento deverá ser divulgado “nos próximos dias”, segundo a empresa.

De acordo com a advogada do Google Natália Kuchar, o relatório será atualizado todos os dias com informações sobre quanto custou cada anúncio das plataformas do Google e quem pagou por eles. Serão divulgadas tanto informações sobre cada anúncio específico quanto sobre dados agregados. Só serão coletadas informações sobre as candidaturas federais.

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Portanto, será possível saber, por exemplo, qual partido ou candidato veiculou mais anúncios por meio do Google dentro de um determinado período, ou quem gastou mais dinheiro com publicidade digital nas eleições.

Kuchar explicou ainda que a definição de propaganda política adotada pelo Google é mais ampla que a da legislação eleitoral. Não entrarão no relatório apenas anúncios com pedidos de voto, critério hoje usado pela Justiça Eleitoral para classificar a propaganda eleitoral. “Se falar o nome de um candidato ou de um partido, o anúncio será considerado publicidade política, e aí ficará cadastrado na nossa plataforma”, explicou a advogada.

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Ela também disse que o relatório abrangerá um período maior que o período eleitoral oficial, que começa em 12 de agosto e vai até o segundo turno. “Nossa ideia é estender um pouco mais para que possamos depois dizer o que se anuncia sobre política no Brasil”, afirma Kuchar.

O Google Trends, que monitora os dados de buscas feitas nas plataformas da empresa em tempo real, também terá ferramentas dedicadas às eleições.

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A primeira delas é o relatório “Eleições na Busca 2022″, que terá dados do Google Trends sobre as buscas feitas por brasileiros sobre os temas considerados mais importantes politicamente pelos pesquisadores da empresa. O documento será dividido em cinco capítulos: saúde, educação, economia, desenvolvimento e segurança.

“Será uma ferramenta para entender o que o brasileiro quer para o Brasil”, disse Marco Túlio Pires, diretor do Google News Lab Brasil e responsável pelo projeto. O relatório será divulgado “na primeira quinzena de julho”, segundo o executivo. Ele citou, como exemplo do conteúdo que será divulgado, que o interesse por “salário mínimo” é o maior já registrado pelo Google desde que o Google Trends foi lançado, em 2004 — no mês passado, uma consultoria divulgou estudo segundo o qual 2022 será o primeiro ano em que o salário mínimo perderá poder de compra desde o lançamento do Plano Real, em 1994.

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E no dia 16 de agosto será lançada uma central do Google Trends para as eleições deste ano, que terá informações em tempo real sobre todos os partidos e candidatos a cargos federais nos cinco maiores colégios eleitorais do Brasil.

Impacto econômico

A companhia apresentou nesta quarta um novo “relatório de impacto econômico”, com uma estimativa do montante que empresas que usam as plataformas e as ferramentas da gigante de tecnologia, como Google Ads, AdSense e YouTube, tiveram de receita.

De acordo com o relatório, o impacto econômico do Google em seus clientes foi de R$ 104,5 bilhões em 2021. Foi a primeira vez que o documento foi produzido por uma consultoria externa. Em 2020, o impacto econômico estimado das ferramentas do Google foi de R$ 65 bilhões, embora o relatório tenha sido produzido com outra metodologia e, por isso, os números não são comparáveis.

Segundo a empresa de Mountain View, na Califórnia os desenvolvedores de aplicativos tiveram receita de R$ 1,3 bilhão por meio da Play Store, a loja de aplicativos da companhia, em 2021.

A diretora de negócios para médias empresas do Google Brasil, Fernanda Doria, disse no evento que os resultados maiores de impacto econômico foram provocados pela pandemia. “Houve um crescimento da procura por serviços digitais e por isso muitas empresas correram para se adaptar. E também vimos fornecedoras de tecnologia terem um crescimento muito grande de demanda”, disse.

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Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.

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