Em busca de eficiência, Loft contrata veterano da AB Inbev para liderar operação

Marcel Regis, ex-CEO da Bavaria, maior cervejaria da Colômbia, assume como COO com a missão de preparar a startup para um mercado mais adverso

Mate Pencz (à esquerda), CEO da Loft, Marcel Regis (centro), novo COO, e Florian Hagenbuch, presidente do grupo, na sede da Loft em São Paulo (Foto: Wanezza Soares)
20 de junio, 2022 | 06:00 PM

Bloomberg Línea — O ciclo de desenvolvimento de startups tem sido acelerado nos últimos meses com a virada das condições de mercado e a redução da oferta de capital, especialmente para as que já atingiram um estágio de maior maturidade. Um dos desafios é conciliar a estratégia de rápido crescimento com o ganho de eficiência da operação, uma condição que já era fundamental e que se tornou imperativa em tempos de crise.

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Para uma das maiores startups da América Latina, a Loft, essa preocupação acaba de se traduzir na maior reestruturação de sua operação em quatro anos de existência.

A startup, uma das líderes dos mercados brasileiro e mexicano na compra e venda de imóvel por meio de plataformas digitais, com soluções de tecnologia “ponta a ponta”, acaba de trazer o executivo Marcel Regis, um veterano de 25 anos de Ambev (ABEV3) e AB Inbev, para assumir a liderança da operação como COO (Chief Operating Officer), alinhado aos sócios fundadores Mate Pencz e Florian Habenbuch.

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A contratação de um executivo com a “cultura Ambev” é um sinal dos novos tempos, dois meses depois de a startup ter realizado um corte de cerca de 160 pessoas na vertical de crédito imobiliário, que ela atribuiu a sobreposições. O quadro atualmente conta com cerca de 3.200 trabalhadores.

Regis foi anunciado aos funcionários da Loft no início da noite desta segunda-feira (20).

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Pencz continuará como CEO (Chief Executive Officer) da Loft, enquanto Hagenbuch assumirá como presidente do grupo, liderando as frentes de cultura e integração, mas sem função executiva. A Loft foi avaliada em US$ 2,9 bilhões por ocasião de sua última rodada Série D, há um ano.

“Sempre quisemos criar uma empresa que chamamos de all weather, ou seja, capaz não só de sobreviver como de prosperar em tempos adversos e de volatilidade. Uma empresa duradoura”, disse Pencz com exclusividade à Bloomberg Línea. A expressão é uma alusão ao nome de um dos fundos mais tradicionais e bem-sucedidos de uma das maiores gestoras do mundo, a Bridgewater, do bilionário investidor Ray Dalio.

Regis era até o mês passado o CEO da Bavaria, maior cervejaria da Colômbia, que faz parte da gigante global AB InBev. Ocupou diversos cargos na linha de frente do império de bebidas erguido pelo trio de empreendedores Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira a partir da formação da Ambev no fim da década de 1990.

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O objetivo com a nova gestão, segundo Pencz e Hagenbuch, é se antecipar a um agravamento do quadro. Por ora, a desaceleração da economia brasileira e o aumento dos juros, um fator do qual depende o mercado imobiliário, não têm ainda impactado de maneira relevante os negócios da Loft. Nos cinco primeiros meses do ano, o crescimento foi três vezes o do mesmo período de 2021.

“Eu vejo muitas oportunidades na complementaridade entre o crescimento de receita que já existe na Loft com o de rentabilidade que podemos obter”, disse o executivo à Bloomberg Línea. Ele se refere a uma política com foco na gestão de custos, com “disciplina e austeridade” (palavras que fez questão de enfatizar), e em priorizar investimentos que tragam mais retorno.

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“O atual contexto exige que sejamos firmes nas ações de aumento de eficiência e, ao mesmo tempo, não percamos de vista o desenvolvimento e o crescimento contínuo do negócio”, disse Regis.

Pencz e Hagenbuch contam que a preocupação com o ganho de eficiência da operação e a busca por sinergias já estava presente de maneira mais profunda há um ano com as aquisições em série, mas que se tornou ainda mais necessária com a virada das condições de mercado nos últimos meses.

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Preservar caixa se tornou uma prática obrigatória diante da limitação de recursos de fundos de venture capital, o que exige que muitas companhias tenham que sustentar a operação por meses ou alguns anos até que consigam novamente obter capital.

Nos últimos dois meses, diferentes startups na América Latina, incluindo unicórnios - empresas novatas avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais -, anunciaram demissões como parte de medidas para readequar a operação aos tempos adversos.

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Outra missão do novo COO será integrar as operações e capturar sinergias das aquisições da Loft ao longo do último ano, como a da Credpago e da CrediHome, respectivamente empresas que lideram o mercado de aluguel residencial sem fiador e de originação de crédito - o intermediário que faz a ponte entre o tomador e os bancos. Essa operação financeira se tornou uma das principais frentes de negócios da companhia.

Outros negócios que fazem parte da Loft são a TrueHome, empresa líder em compra e venda de imóveis pela internet no México; o portal digital de condomínios 123i; e a Nomah, startup de locação de imóveis reformados e administrados para short e long stay (curta e longa duração), entre outros.

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Busca por sinergias

O executivo também terá a missão de aprofundar e estabelecer uma cultura de gente e gestão na startup. São duas áreas nas quais a Ambev e a AB Inbev se tornaram referência no mundo ao longo das duas últimas décadas, com talentos desenvolvidos dentro de casa para liderar operações globais, a começar pelo ex-CEO da AB Inbev, o brasileiro Carlos Brito, reconhecido pelos resultados entregues ao longo de anos.

A escolha do novo COO não se deu por acaso, reforçou Pencz. “O Marcel vem com a experiência de ter feito em larga escala na Ambev o que já buscávamos praticar no dia-a-dia, mas sem a mesma expertise.”

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A capacidade de Regis vem de experiências como o comando da unidade de negócios da AB Inbev na África do Sul, liderando a integração do grupo no país após a fusão com a SABMiller - uma transação que uniu as duas maiores cervejarias do mundo em 2016.

As negociações para a contratação duraram cerca de seis meses, o que incluiu uma visita de Pencz e Hagenbuch à Colômbia no meio tempo.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.

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