Simone Tebet: quem é, de onde veio e o que pensa a pré-candidata do MDB

Senadora de Mato Grosso do Sul já recebeu apoio de parte do empresariado como alternativa para quebrar a polarização Lula-Bolsonaro, mas patina na baixa intenção de voto

Simone Tebet
29 de mayo, 2022 | 11:42 AM

Bloomberg Línea — Vista com ceticismo no mundo político, Simone Tebet (MDB) conseguiu o feito de permanecer de pé, enquanto os outros pré-candidatos da chamada terceira via foram caindo, um a um, e hoje ela é a principal aposta da centro-direita para romper a polarização Lula-Bolsonaro.

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Desde o balão de ensaio de Luciano Huck no ano passado às desistências de Sergio Moro e João Doria este ano, Simone Tebet conseguiu ser a escolhida pelo seu partido, o MDB, mas ainda enfrenta o forte desconhecimento de seu nome no eleitorado. Em pesquisas eleitorais, seu nome aparece com 1% ou 2%, dependendo do instituto.

O primeiro a ver potencial na senadora sul-matogrossense, que ganhou projeção nacional com suas falas contundentes durante da CPI da Covid, foi o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). As primeiras cogitações da candidatura própria vieram no começo de 2021, antes mesmo da CPI, quando o quadro de polarização Lula-Bolsonaro já parecia se desenhar.

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No cálculo de Baleia Rossi, o partido corria o risco de quebrar-se numa guerra interna entre os lulistas do Nordeste e os bolsonaristas do Sul. A candidatura própria, mesmo de uma política de um Estado com menos de 1% dos eleitorado nacional e sem tradição em disputas presidenciais, seria um amortecedor para estas alas numa solução de unidade para o partido.

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Baleia apostou que Simone tem a imagem que o MDB quer projetar daqui para a frente com uma candidata jovem (52 anos), que fala bem, é mulher e representa uma imagem de renovação de um partido, que é mais conhecido nacionalmente por líderes regionais que estão há décadas na política.

Como é desconhecida da maior parte dos eleitores, não enfrenta forte rejeição. Estes atributos batem com pesquisas qualitativas (em que grupos de eleitores são entrevistados para detectar tendências) que o MDB e os partidos da chamada terceira via já tinham encomendado, disseram à Bloomberg Línea duas fontes do partido. O teste para o crescimento ou não da candidata nas pesquisas é o próximo conjunto de inserções na televisão do MDB, no mês de junho. O marqueteiro da pré-candidata é Felipe Soutelo.

Quanto ao aspecto político, o da preservação do partido, Simone tem sido bem recebida em alas distintas. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que nos bastidores ansiava por algum tipo de aproximação com a campanha Bolsonaro, viu na aparição de pré-candidata uma saída honrosa para não azedar a relação com a Esplanada dos Ministérios em Brasília, já que o MDB nacionalmente não tinha possibilidade de ir para a base do presidente. Em janeiro, Nunes organizou uma agenda para a pré-candidata na comunidade de Paraisópolis.

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No Pará, o governador Helder Barbalho viu a sua base rachada entre lulistas e bolsonaristas (estes especialmente fortes em áreas de agronegócio no sul do Estado). Com a chegada de Tebet ao cenário nacional, a família Barbalho, cuja trajetória política nasce na esquerda do MDB durante a ditadura militar, conseguiu protelar a encrenca na sua base para depois do primeiro turno. Em março, Helder acompanhou Tebet na visita ao mercado Ver-O-Peso, tradicional ponto de peregrinação de candidatos que fazem campanha em Belém.

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As principais resistências a Simone internamente vêm de Alagoas, terra de Renan Calheiros, e Ceará, do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira. Ambos estão com Lula. No Sul, a formação de palanques regionais é complicada. Uma parte do MDB gaúcho, como o deputado e ex-ministro Osmar Terra, é Bolsonaro.

Um segundo aspecto que viabilizou a pré-candidatura de Simone está fora do MDB. Influente no mundo empresarial e político, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) abraçou a alternativa Tebet mesmo antes de Doria desistir oficialmente da candidatura. Tasso tem apresentado a senadora a empresários, aproximou a pré-candidata da mídia nacional e apresentou a economista Elena Landau, com quem tem proximidade desde o governo FHC nos anos 1990, para a condução do programa de governo.

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Na semana passada, Tebet avançou neste segundo front com a declaração de apoio do ex-presidente do BC e sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, do ex-presidente do Itaú, Candido Bracher, e o acionista da Klabin, Wolff Klabin.

DE ONDE VEIO: Formada em direito pela PUC-SP, Simone Tebet vem de um tradicional clã político de Mato Grosso do Sul. Ramez Tebet (1936-2006), seu pai, era vice-governador do Estado nos anos 1980, quando herdou o cargo porque o titular Wilson Barbosa Martins foi disputar o Senado, em 1986. Em 1994, Ramez elegeu-se senador e teve uma ascensão meteórica em Brasília.

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Foi ministro da Integração Nacional do governo FHC, cargo que ocupou por apenas três meses, porque o Senado viu-se numa crise política em torno da cassação do senador Luís Estevão (DF) e a renúncia de outros três poderosos senadores no caso de suspeita de violação do painel de votações, Antonio Carlos Magalhães (BA), Jader Barbalho (PA) e José Roberto Arruda (DF). Ramez foi eleito presidente do Senado em um acordo político que visava pacificar a Casa.

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Enquanto o pai presidia o Senado, Simone foi eleita deputada estadual em MS em 2002. Depois, em 2004, tornou-se prefeita de Três Lagoas, cidade da divisa de MS com SP que é o berço político da família. Seu mandato coincidiu com uma forte onda de investimentos em commodities na região e por uma privilegiada posição logística, além da proximidade com o maior mercado consumidor do país, Três Lagoas é atravessada pelo gasoduto Bolívia-Brasil. Foi durante seu mandato que a cidade se tornou sede da Eldorado Celulose e, graças a incentivos fiscais estaduais e municipais, mais de uma centena de outras companhias se instalaram ali.

Quando prefeita, Simone Tebet doou um terreno para a Petrobras instalar na cidade uma fábrica de fertilizantes a partir do gás natural trazido dos campos de Tarija, na Bolívia. A planta teve investimentos de R$ 3,3 bilhões, mas nunca foi concluída porque a estatal implementou a partir de 2016, na ressaca da Lava Jato, uma política de desinvestimentos em áreas consideradas não prioritárias.

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Tebet foi reeleita com 76% em 2008, mas não concluiu o segundo mandato porque foi eleita vice-governadora de Mato Grosso do Sul em 2010, na chapa de André Puccinelli (MDB). Do período como prefeita respondeu a uma ação de improbidade administrativa envolvendo um fornecedor do município que doou recursos para sua campanha de reeleição em 2008, mas o caso prescreveu (foi extinto sem ter sido julgado no prazo legal), no Tribunal de Justiça de MS.

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Em 2014, foi eleita senadora. Simone Tebet é casada com Eduardo Rocha (MDB), deputado estadual do MDB em Mato Grosso do Sul, e tem duas filhas.

Planta da unidade de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas (MS): R$ 3,2 bilhões gastos antes de ser abandonada pela estatal, que mudou sua política de investimentos em 2016dfd

IDEIAS ECONÔMICAS: No Senado, foi eleita para presidir a poderosa CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), colegiado que avalia os aspectos jurídicos e constitucionais dos projetos para decidir se eles seguem adiante ou se morrem ali mesmo.

Sua atuação no Senado é marcada por apoio à pauta econômica liberal. Ela votou a favor da reforma trabalhista e do teto de gastos, aprovados no governo Temer, e a favor da reforma previdenciária, apresentada por Jair Bolsonaro em 2019. No Mato Grosso do Sul, ela é considerada uma política pró-business e com boa interlocução com o agronegócio, principal motor econômico do Estado.

Em 2016, ela votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

Tebet se tornou mais conhecida nacionalmente durante a CPI da Covid. Ela foi a responsável por fazer o deputado Luís Miranda (Republicanos-DF) a ligar o então líder do governo e ex-ministro da Saúde Ricardo Barros (Progressistas-PR) ao caso da compra da vacina Covaxin, com suspeita de superfaturamento.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.

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