Populismo ameaça investimento na América Latina, dizem especialistas

Como vencer um líder populista? Responsabilizá-lo pelo que deixou de entregar ao eleitor, segundo debate em painel no Bloomberg New Economy

Ramon Martinez (segundo à esquerda), ministro do Comércio e da Indústria do Panamá, Vanessa Rubio Marquez, ex-ministra-assistente de Finanças do México, e Jorge Guajardo (à direita), ex-embaixador do México na China, no Bloomberg New Economy Gateway
18 de mayo, 2022 | 07:27 PM

Bloomberg Línea — Em meio a tomadas de decisão de investimento de longo prazo na América Latina, CEOs e empresários da região estão diante de um quadro de ascensão de uma safra de líderes populistas – tanto de esquerda quanto de direita – e instituições democráticas ainda em processo de consolidação em termos de Estado de direito e preservação das regras do jogo.

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“Basicamente, a ideologia do populismo não é uma questão de direita ou esquerda, mas uma narrativa do nós contra eles (...) E as nossas sociedades caíram na armadilha populista desse maniqueísmo, binarismo”, disse Vanessa Rubio-Marquez, ex-senadora e ministra-assistente de Finanças do México e atualmente professora da LSE (London School of Economics), no Bloomberg New Economy Gateway, um fórum que foi aberto nesta quarta-feira (18) na Cidade do Panamá.

“Populistas são muito eficazes em apontar as falhas da globalização, das democracias liberais, mas não entregam nada. Precisamos responsabilizá-los pelo que estão entregando”, afirmou.

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Um dos temas mais candentes do fórum que reúne representantes do setor privado, de governos e estudiosos, a questão da ascensão populista não é propriamente uma novidade nas Américas. Surgiu em diferentes países e contextos a partir da explosão da pobreza com a Grande Depressão, mas teve atualizações recentes com líderes em diferentes governos da região.

O surgimento de um líder carismático capaz de canalizar a raiva e a frustração em votos de enormes contingentes da população foi vista em diferentes países e tem origens eminentemente econômicas, afirmou o ex-embaixador do México na China Jorge Guajardo.

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O problema, segundo ele, é que ataques a instituições tendem a produzir, a médio e longo prazos, mais pobreza, porque enfraquecem o Estado de direito e tornam o país mais imprevisível e hostil a investimentos. Para o ex-embaixador, o “populismo de Trump” (nas suas palavras no painel) nos Estados Unidos ainda tem efeitos na América Latina.

“O que a experiência nos mostra é que líderes populistas tendem a empobrecer seu povo e podemos entender que populismo sempre gera mais pobreza, embora nem todo o tipo de pobreza vá gerar populismo necessariamente”, disse Guajardo, atualmente sócio da McLarty, uma firma de consultoria baseada em Washington.

Tanto Rubio-Márquez quanto Guajardo afirmaram que os algoritmos das redes sociais passaram a ter um papel importante na expansão das bases dos políticos populistas na América Latina.

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“Não se trata apenas de redes sociais, mas de como os algoritmos dessas redes alimentam a polarização e o populismo hoje, permitindo uma mobilização de enormes contingentes 24 horas por dia e sete dias por semana. Essa é uma parte importante do problema, já que as redes se tornaram uma plataforma de expressão da raiva e da decepção, que têm sido instrumentalizadas por líderes populistas”, disse a professora da LSE.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.

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