Protecionismo alimentar representa risco de inflação

Restringir as exportações para garantir a segurança alimentar interna pode causar explosão de preços até para mais ricos

Supermercado
Por Low De Wei
24 de mayo, 2022 | 10:32 AM

Bloomberg — O protecionismo alimentar está aumentando no mundo em desenvolvimento à medida que os governos tentam proteger os suprimentos locais, e os efeitos ameaçam se espalhar para as economias mais ricas.

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Os países estão restringindo as exportações para lidar com os altos preços que foram exacerbados pela guerra na Ucrânia. A Malásia anunciou a proibição das exportações de frango, causando consternação em Singapura, que obtém um terço de seus suprimentos de lá. A Índia tomou medidas para conter as remessas de trigo e açúcar, a Indonésia limitou as vendas de óleo de palma e algumas outras nações emitiram cotas de grãos.

Os países mais pobres são mais vulneráveis ao aumento dos preços dos alimentos e à escassez, mas as economias mais ricas não estão imunes. Por exemplo, quase 10 milhões de britânicos reduziram o consumo de alimentos em abril em meio a uma crise de custo de vida. Os restaurantes dos EUA estão diminuindo o tamanho de suas porções, enquanto a França se comprometeu a emitir vales-alimentação para algumas famílias.

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“Famílias de baixa renda no Reino Unido e nos EUA estão lutando para se alimentar”, disse Sonia Akter, professora assistente especializada em agricultura na Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Singapura. O aumento dos preços “afetará desproporcionalmente as pessoas pobres que gastam grande parte de sua renda em alimentos”, disse ela.

Um indicador das Nações Unidas dos preços mundiais de alimentos saltou mais de 70% desde meados de 2020 e está próximo de um recorde depois que a invasão da Ucrânia sufocou as exportações de safras e abalou as cadeias de suprimentos. Mais protecionismo alimentar pode aumentar ainda mais os custos, prejudicando ainda mais o poder de compra do consumidor e criando dores de cabeça para os bancos centrais que tentam conter a inflação enquanto mantêm o crescimento.

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Os riscos estão voltados para mais protecionismo alimentar na Ásia, disse Sonal Varma, economista-chefe para Índia e Ásia (exceto Japão) da Nomura Holdings. Isso pode exacerbar as pressões de preços em todo o mundo, disse.

No mais recente exemplo de medidas protecionistas na região, a Índia deve limitar as exportações de açúcar como medida de precaução antes do início da próxima safra em outubro, informou a Bloomberg News na terça-feira (24).

Restrições

Cerca de 30 países tomaram medidas para restringir as exportações de alimentos desde o início da guerra na Ucrânia, com o protecionismo agrícola no nível mais alto desde a crise dos preços dos alimentos em 2007 e 2008, disse Sabrin Chowdhury, chefe de commodities da Fitch Solutions.

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“O protecionismo definitivamente continuará em 2022 e aumentará nos próximos meses, exacerbando os riscos de segurança alimentar para os mais vulneráveis do mundo”, disse ela.

Isso vem preparando o terreno para que os itens mais importantes fiquem mais caros. Os futuros de trigo de referência subiram 56% este ano, o óleo de palma subiu 38%, enquanto um indicador da ONU dos preços dos laticínios subiu 14%.

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As restrições à exportação não são apenas más notícias para os países importadores. Eles também penalizam os agricultores nas nações produtoras, impedindo-os de aproveitar os altos preços internacionais, disse David Adamson, professor sênior do Centro de Alimentos e Recursos Globais da Universidade de Adelaide.

“O protecionismo é a pior coisa a fazer para a segurança alimentar, pois impede que os mercados trabalhem para suavizar as coisas”, disse ele.

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--Com a colaboração de Michelle Jamrisko.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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