ITA busca injeção de capital de novo dono para voltar a voar

Itapemirim Transportes Aéreos, que paralisou voos em dezembro, tem reunião de novos gestores no fim de semana para discutir retorno

Dados das frotas da Cirium mostraram em dezembro que a ITA tinha uma frota de seis Airbus A320 alugados. As aeronaves foram gerenciadas e arrendadas pela Carlyle Aviation Partners e pela Deucalion Aviation
15 de abril, 2022 | 01:54 PM

São Paulo — A ITA (Itapemerim Transportes Aéreos), que deixou milhares de passageiros sem voar às vésperas do Natal no ano passado, busca receber uma injeção de capital e prepara seu retorno ao mercado brasileiro da aviação comercial, após anunciar, internamente, a venda da companhia para a Baufaker Consulting, uma consultoria de gestão empresarial, sediada em Brasília, sem atuação relevante conhecida no setor. O movimento acontece em meio ao ceticismo de outras companhias aéreas de que a novata conseguirá se reerguer sem ajuda política no Ministério da Infraestrutura.

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Os novos gestores estarão em reunião permanente neste fim de semana para discutir sobre investimentos, geração de novos postos de trabalho, compra de aeronaves e outros temas referentes ao futuro da empresa”, informou a companhia em nota enviada à Bloomberg Línea, nesta sexta-feira (15).

No começo desta semana, o novo CEO da ITA, Adalberto Bogsan, comunicou aos funcionários que a Baufaker, apresentada por ele como “uma empresa financeira controlada e administrada por brasileiros”, tinha acabado de adquirir a companhia, mas não deu detalhes, como preço e termos da negociação.

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“Após concretizar o negócio, o novo acionista concentra esforços na capitalização da empresa e manutenção do grupo de colaboradores e executivos. Com a aquisição e manutenção dos leasing de cinco aeronaves, do tipo A320ceo, promete inaugurar um novo e inédito modelo de transportar passageiros e cargas em território nacional”, diz o comunicado.

O anúncio aos funcionários ocorreu antes da oficialização do pedido de retorno da ITA com as autoridades do setor, como a Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) e a SAC (Secretaria Nacional de Aviação Civil), ligada ao Ministério da Infraestrutura. Em dezembro, após o anúncio da suspensão dos voos do fim do ano, a Anac suspendeu o certificado de operador aéreo da ITA.

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Na próxima semana começa a nova fase de retomada com reuniões com SAC, Anac, além de negociações dos passivos acumulados neste período de interrupções das operações, como salários, leasing, taxas de aeroporto, reembolso de passageiros e outros”, informou o CEO.

A Anac ainda não se manifestou oficialmente sobre o plano de volta da ITA aos ares. A lista de pendências da companhia inclui a recuperação do certificado e o reembolso de passageiros que não conseguiram voar em dezembro, além da renegociação com fornecedores e empresas de leasing.

Desde a derrocada em dezembro, a ITA anuncia prazo para o retorno da venda de passagens, algo que é visto pelos analistas do setor como uma tentativa de ganhar tempo e salvar o projeto. Em dezembro, prometeu voltar em fevereiro deste ano, mas a previsão não vingou.

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Ceticismo

O ceticismo do mercado com as pretensões da ITA tem a ver com o fato de que o grupo rodoviário Itapemirim, que iniciou a operação da sua companhia aérea há 10 meses, está em recuperação judicial. O início das atividades da ITA, com aprovação prévia das autoridades reguladoras, foi questionado, diante de denúncia de que R$ 70 milhões foram retirados do processo de recuperação judicial do grupo para a criação da empresa aérea. O Procon-SP, entidade de defesa do consumidor, pediu investigação do caso.

Sobre o motivo da paralisação das operações em dezembro, a ITA chegou a responder ao Procon-SP que a decisão de deixar os aviões no chão foi motivada por um problema causado por empresa terceirizada, prestadora de serviços técnicos operacionais de atendimento de rampa nas aeronaves, atendimento a passageiros e serviços de operação de carga, que inicialmente manteria as operações até o dia 10 de janeiro passado, mas em 17 de dezembro determinou que todos os seus colaboradores abandonassem os postos de trabalho.

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Durante seis meses de operação, a ITA transportou cerca de 360 mil passageiros, segundo a Anac. Relatório da agência, divulgado em janeiro, apontava a ITA como a quarta maior companhia aérea do país.

Caso consiga superar os obstáculos para recuperar o certificado de operador aéreo e conseguir honrar seus compromissos com fornecedores, funcionários e passageiros lesados pela suspensão dos voos em dezembro, a ITA será uma exceção na lista das companhias aéreas que a aviação civil brasileira deu adeus definitivamente, nas últimas décadas, como a Transbrasil, Vasp, Varig, TAM, entre outras marcas de atuação mais regional, que nunca voltaram a voar como antes.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.

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