Soja: Indústria ignora oferta menor e amplia processamento no Brasil

Volume industrializado em fevereiro foi o maior dos últimos seis anos, mas queda na disponibilidade vai reduzir exportações do setor em 2022

Indústrias aumento processamento de soja em ano de quebra de safra de olho nos preços dos derivados
22 de abril, 2022 | 05:45 PM

Bloomberg Línea — Já é certo que o Brasil vai colher neste ano uma safra de soja menor do que o esperado, inferior, inclusive, à produção do ano passado. O último dado oficial para a safra brasileira divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é de uma produção de 122,4 milhões de toneladas do grão.

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A expectativa para a colheita deste ano já chegou a ser de 142,7 milhões de toneladas, projetada em dezembro do ano passado, mas vem sendo corrigida mês a mês, conforme as perdas provocadas pela seca, especialmente na região Sul do país, se consolidam. No ano passado, a produção foi de 137,2 milhões de toneladas, 12,1% a mais do que se esperava para este ano.

Apesar do cenário, a indústria processadora nacional ainda não sentiu os efeitos da menor disponibilidade do grão. Em sentido oposto à tendência, o volume de soja esmagado neste ano foi o maior para meses de janeiro e fevereiro dos últimos seis anos.

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Os dados mais recentes da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) mostram que em fevereiro foram processadas 3,65 milhões de toneladas de soja em grão para produção de óleo e farelo, volume que representa um crescimento de 18% em comparação ao mesmo período do ano passado. Em janeiro, já haviam sido processadas 3,06 milhões de toneladas, quase 20% a mais do que o registrado em janeiro de 2021.

A intensificação no processamento de soja neste ano demonstra o interesse das indústrias em centrar esforços nos produtos de maior valor agregado, no caso, farelo e óleo de soja. A expectativa das empresas é que sejam processadas neste ano 48 milhões de toneladas, 2% a mais do que em 2021.

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Com a maior demanda do grão para a indústria e a safra menor deste ano, vai sobrar menos soja para ser exportada. A Abiove estima que serão embarcadas neste ano 77,2 milhões de toneladas, 10% a menos do que o volume exportado no ano passado do principal item de exportação do Brasil. O novo número também representa uma queda de 500 mil toneladas em comparação à estimativa realizada em março.

Condições do mercado

A explicação para o maior da indústria em processar mais soja do que exportar o grão está nos preços. No mês passado, o importador interessado em comprar soja em grão do Brasil pagou US$ 672,95 por tonelada, segundo dados da própria Abiove. O valor representa uma valorização de praticamente 30% em comparação ao valor pago em março do ano passado.

Mesmo com preços melhores, a valorização registrada pela soja em grão ficou significativamente abaixo dos ganhos registrados pelo óleo e pelo farelo de soja. No porto de Paranaguá, o preço do farelo para exportação em março foi de US$ 578,09 por tonelada, quase 35% a mais do que a cotação de março de 2021. No caso do óleo, a tonelada do produto para embarque em março do ano passado era vendida a US$ 1.192,64, valor que subiu para US$ 1.799,61 no mês passado, um ganho superior a 50%.

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A situação não é exclusiva do mercado externo. Os preços do óleo e do farelo subiram mais do que os da soja em grão também no mercado interno. Nos últimos 12 meses, o grão acumulou uma valorização de 19,5%, enquanto os preços do farelo e do óleo subiram 17% e 32,2%, respectivamente.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.

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