Bloomberg — A inflação no Brasil está tão alta que um número expressivo de economistas espera que o Banco Central aumente as taxas de juros muito além do que os diretores da instituição consideravam necessário alguns meses atrás.
Economistas do Credit Suisse e do BNP Paribas estão entre aqueles que esperam que a taxa básica de juros, atualmente em 12,75% ao ano, encerre o atual ciclo de aperto monetário em 14,25% ou próximo disso, igualando seu último pico em 2016. A maioria dos economistas consultados pela Bloomberg ainda prevê que a taxa termine o ano em 13,25%, como sinaliza o Banco Central.
“A inflação corrente continuará surpreendendo os banqueiros centrais, assim como as expectativas de inflação”, disse Lucas Vilela, economista do Credit Suisse. O plano de voo, que seria entregar um aumento final na próxima reunião daqui a duas semanas, nos dias 14 e 15, “terá que mudar”, disse ele.
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As apostas em juros mais altos mostram o quão difícil será para a instituição liderada por Roberto Campos Neto ajustar a política monetária em tempos de guerra e rupturas na cadeia de suprimentos. Os diretores do BC sinalizaram que gostariam de parar de subir o juro em 12,75%, mas tiveram que apontar outro aumento de 50 pontos-base como “provável” após indicadores de preços acima do que se esperava.
Os integrantes do Copom já aumentaram a taxa básica em 10,75 pontos percentuais desde o ano passado – um dos ciclos de aperto monetário mais agressivos do mundo no pós-pandemia. A taxa Selic estava em 2% ao ano em março de 2021.
Apesar dos esforços da autarquia, os preços continuaram a subir mais do que o esperado e levaram as estimativas de inflação para ainda mais acima da meta - que é de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual -, o que prejudica as chances de o presidente Jair Bolsonaro ser reeleito em outubro.
Quase um terço de seus apoiadores disse que pode mudar de voto se a inflação continuar acelerada nos próximos meses, de acordo com uma pesquisa Datafolha da semana passada, que também mostrou a ampliação da vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O aumento dos preços ao consumidor é uma dor de cabeça para quase todos os líderes mundiais atualmente, mas o impacto é desproporcional sobre os mais pobres no Brasil, que compõem a maior parte da população.
Campos Neto, tentando um difícil equilíbrio entre conter os aumentos de preços e proteger o crescimento econômico, disse na terça-feira (31) que fará “o possível” para cumprir a meta de inflação com “custo mínimo” para a economia. Operadores interpretaram suas observações como mais um sinal de que o BC tentará encerrar o aperto neste mês, reduzindo as taxas de juros futuras.
Mas a inflação ainda não deu ao BC uma razão para uma pausa. Os preços ao consumidor medidos pelo IPCA-15 subiram 12,20% ao ano até meados de maio, acima das expectativas dos economistas, com aumentos generalizados em quase todas as cestas de bens e serviços monitoradas pelo IBGE.
“Não são só eles. Todos os banqueiros centrais estão errando sobre esse choque inflacionário”, disse o ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna, atualmente professor da Fundação Getulio Vargas.
Erros passados
O próprio Campos Neto reconhece o alto custo de ancorar expectativas de inflação desequilibradas. “Nas duas últimas vezes que isso aconteceu no Brasil, tivemos que mergulhar em uma recessão”, disse na terça-feira (30).
Os economistas com as estimativas de taxas de juros mais altas temem que um remédio tão amargo, incluindo uma desaceleração econômica em 2023, seja inevitável agora.
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“Aprendemos quanto tempo leva e quão difícil pode ser” reduzir as expectativas de inflação, disse Gustavo Arruda, head de pesquisas para a América Latina no BNP Paribas. Ele citou a última crise inflacionária que se formou durante o governo de Dilma Rousseff e que acabou forçando o BC a manter a Selic em 14,25% ao ano entre 2015 e 2016.
Embora as causas para a alta dos preços fossem diferentes naquela época, a inflação já está “muito pior agora”, disse Vilela, do Credit Suisse.
“Já está mais alta e mais difundida, até o núcleo da inflação está mais alto.”
©2022 Bloomberg L.P.
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