Por que os defensores das criptomoedas devem exigir a regulamentação

Um futuro desejável para as finanças digitais requer uma regulamentação prudente

Logo de la criptomoneda bitcoin en Hong Kong, China. Fotógrafo: Paul Yeung/Bloomberg
Por Bill Dudley
01 de mayo, 2022 | 04:34 PM

Bloomberg Opinion — As finanças digitais estão cada vez mais presentes, com o valor das criptomoedas em circulação chegando a mais de US$ 2 trilhões - tendo saído de praticamente zero há uma década – quase inteiramente sem supervisão regulatória para proteger os investidores e o sistema financeiro mais amplo. Isso provavelmente não terminará bem, a menos que as autoridades intervenham de maneira ponderada.

Então, o que eles deveriam fazer? Uma opção é evitar o desastre por meio da repressão. Mas ainda há uma abertura para uma abordagem mais equilibrada que não iniba a inovação útil – desde que os reguladores ajam rápido.

Apesar de todas as suas desvantagens, a tecnologia blockchain subjacente às finanças digitais tem vários usos potenciais bastante atraentes, embora possa criar um sistema melhor de identidade e privacidade. Isso pode ajudar a acompanhar – e verificar a propriedade – de mercadorias vendidas internacionalmente. Outra melhoria possível está ligada aos pagamentos, que poderiam passar a estar disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana para mais pessoas e a um custo menor, principalmente para transações menores e frequentes realizadas por trabalhadores migrantes.

Mas, como Carolyn Wilkins e eu escrevemos em um resumo publicado pelo Comitê de Bretton Woods, um futuro desejável para as finanças digitais requer uma regulamentação prudente. E embora a recente ordem executiva do presidente Joe Biden sobre o assunto esteja no tom certo, não é o suficiente para garantir que sejam tomadas medidas antes que o crescimento desenfreado do setor gere transtornos e perdas significativas.

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Por que as autoridades estão levando tanto tempo para agir? Uma razão é um sistema regulatório fragmentado nos Estados Unidos: a responsabilidade está espalhada por várias entidades, incluindo o Federal Reserve, a Securities and Exchange Commission, a Commodity Futures Trading Commission e o Departamento do Tesouro – uma configuração propícia a batalhas de território em que, por exemplo, os reguladores argumentam sobre a natureza das criptomoedas, se são títulos e quem deve supervisioná-las.

Além disso, a comunidade regulatória não possui a experiência interna necessária para entender novos modelos de negócios e tecnologias e tomar decisões informadas sobre eles. E as autoridades são naturalmente avessas ao risco: preferem errar por inação, ou por adiar e pedir mais informações, do que aprovar alguma nova atividade – com o receio de desencadear forças que possam ter consequências imprevisíveis e nem sempre positivas.

O governo Biden pode ajudar a superar o primeiro obstáculo, delegando claramente as responsabilidades. Mas serão necessários mais passos. Primeiro, os reguladores precisam reforçar seu entendimento criando comitês de especialistas do setor e contratando seus próprios consultores bem informados. Em segundo lugar, essas autoridades devem adotar uma abordagem iterativa, na qual enfatizam mais seus objetivos – digamos, combater a lavagem de dinheiro e proteger consumidores e investidores – do que os meios pelos quais esses objetivos são alcançados. É essencial que estabeleçam um objetivo claro e deixem que os participantes assumam a liderança para descobrir a melhor forma de chegar lá na prática.

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Quanto mais os governos esperarem, maiores serão os riscos para os consumidores, mercados e economia – e maiores serão as chances de que grandes perdas causadas por roubos cibernéticos ou um colapso do mercado de criptoativos forcem uma repressão que acaba por matar a inovação. É, portanto, do interesse de todos que o processo comece agora.

Bill Dudley, colunista da Bloomberg Opinion e consultor sênior da Bloomberg Economics e do Griswold Center for Economic Policy Studies, da Princeton University. Ele atuou como presidente do Federal Reserve Bank de Nova York de 2009 a 2018 e como vice-presidente do Federal Open Market Committee. Anteriormente, foi economista-chefe dos EUA no Goldman Sachs.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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